quinta-feira, 16 de setembro de 2010

MADE IN ÓBIDOS

Pronto, surtou de vez! Dirão alguns. Não me importo. Aliás, nunca me importei muito com o que pensam ou deixam de pensar. Agora então, depois de certa idade e vivência, menos ainda.

Aproveitando o tempo livre que tenho no momento enquanto me recupero de uma recente cirurgia, entre outras coisas, escrevo este Diário.

Hoje resolvi compartilhar algumas idéias malucas, tipo aquela em que o cara observou que todo curativo era feito com esparadrapo e algodão, juntou os dois, inventou o Band-Aid e ficou rico. Simples assim.

- Huuummm... mas idéias como essas não se dividem com ninguém e se fica rico também. - Verdade! O problema é que já sou rico (de amor, carinho, família e amigos sinceros e certos nas horas incertas - verdadeiro tesouro!), o tempo passou, não realizei e, sendo presunçoso, penso que, se pelo menos uma vingar, pode gerar riqueza para alguns empresários malucos ou, melhor ainda, para uma inteira coletividade.

O texto é longo. Lá vai história...

No dia 04/07/2010 ficamos sabendo que o Papa celebraria uma Missa em uma cidadezinha chamada Sulmona, na província de Aquila, Itália. Meu filho, como integrante do Coro que acompanha o Pontífice, faria a viagem com o grupo. Como sempre, fui para a Internet pesquisar onde era a cidade, o hotel que ele iria ficar etc. Surpresa! Descobri que Sulmona fabrica o melhor doce "confetti" do mundo! Não pensei duas vezes. Família no carro, lá fomos nós conhecer a cidade e conferir o produto.


Para entender a receita, ver os diversos tipos, as embalagens, lojas, fábricas, turismo e dinheiro que os docinhos geram, basta digitar em qualquer site de busca "confetti sulmona". Não fosse essa uma característica da cidade, a gente talvez nunca pisasse lá, pois o Papa e o Coro vemos e escutamos no Vaticano.

Praticamente cada cidadezinha italiana tem alguma coisa que atrai turismo. A pizza da Puglia é famosa pela cebola, mas para comer a melhor pizza de cebola do mundo tivemos que ir a uma minúscula cidade chamada Modugno, na província de Bari. A pimenta nos fez visitar cidades na Calabria e o molho "alla bolognesa" motivou a família a festejar o aniversário da minha filha em Bologna.


Isso sem falar de museus, monumentos históricos, religiosos, produtos artesanais e industrializados como instrumentos musicais, carros etc.

Onde quero chegar? Em Óbidos, cidadezinha pobre nos canfundós da Amazônia, localizada na parte mais estreita do maior rio do mundo com intenso tráfego marítimo ligando as duas maiores e mais importantes capitais da região norte do Brasil: Belém e Manaus.

Será que não tem nada naquela parte do planeta que obrigue quem por ali passa a parar na cidade e lá deixar boa grana? Ah, tem sim! Basta uma idéia maluca ou produto que só exista lá. Eis uma pequena lista.

Pense um bago de farinha de tapioca. Agora, pense esse bago crocante coberto de chocolate. Eureka! Temos um diamante! Quase. Falta o segredo que contarei no final.

Um italiano inventou um chocolate cuja fórmula é como a da Coca-Cola: podem até tentar imitar, mas nunca farão igual. Graças a esse produto, Michele Ferrero está na Forbes 2010 como um dos homens mais ricos do mundo. Tem no Brasil, em qualquer grande supermercado.


Também me chamou atenção outro produto que vi aqui. Um yogurt que vem em uma embalagem dividida em dois compartimentos. No menor tem pequenas bolinhas de chocolate e na maior o yogurt. A embalagem tem uma dobra que permite virar o conteúdo do primeiro compartimento direto no segundo e tomar o yogurt com flocos crocantes de chocolate.

Voltando para a tapioca e a beira do Rio Amazonas, com ela é possível, no mínimo, dois produtos.

O yogurt nada mais é que uma coalhada metida a besta. Então, basta pegar a tapioca coberta de chocolate, colocar na embalagem de um lado e, no outro, coalhada. Em anexo, um envolpe de açúcar ou sal e uma colher pequena descartável, como as palhetas de tomar sorvete. Seria o preto no branco. Agora, o branco no preto. De um lado a farinha de tapioca simples e do outro açaí. Claro que para ambos seria necessário conhecimento de pasteurização, conservação etc. Tenho dúvida apenas se o açaí é produto carioca ou japonês e para usar precisa pagar "royalty". Se ainda for amazônico e do povo brasileiro, acho que dá pra fazer.

A embalagem, aliás, tudo deve ser biodegradável e que não cause nenhum dano ao meio ambiente se lançado no rio.

Cupuaçu. Pegue o suco, coloque em uma garrafinha (one way) e acrescente bolinhas de gás. Pronto o suco "frizzante" de cupuaçu! Se preferir, acrescente cachaça. Não presta? Ninguém nunca provou.

Vamos em frente.

Gosto de assistir na TV aos programas de televenda dos antiquários italianos. As bengalas para idosos são verdadeiras obras de arte que, dependendo da origem, ano, adornos e contornos pode ultrapassar o valor de 5000 euros!

Óbidos produz uma bengala original, feita do pênis do boi. O acabamento é ruim, mas se a ela for aplicada a arte de um artesão, um detalhe em madeira para ajudar a dar suporte (uma vez que o material original não goza mais de tanto vigor), dificilmente não faria qualquer gringo pagar, no mínimo, 100, 150 reais (30, 50 euros) pela originalidade do produto. Portanto, sugiro aos criadores de gado da região desviar um pouco os olhos das potrancas e vacas e prestar atenção no cornudo. É possível que algum dinheiro esteja indo pro brejo, inclusive nos chifres que, se trabalhados com arte, podem se transformar em originais, preciosos e rentáveis "souvenirs" musicais.

Lembro dos doces de tamarindo em formato de bichos recobertos de açúcar e também uma geléia transparente com motivos decorativos. Produtos prontos. Para estes basta apenas a arte final em grande escala, como os "confetti" de Sulmona.

Quanto um turista pagaria por um pequeno peneiro de palha repleto de pitombas selecionadas (grandes, doces, bonitas) e geladas?

A lista não termina e eu preciso terminar o texto. Tem ainda idéia maluca para tucumã, bolinho de piracuí, molhos de pimenta, farinha, castanha-do-pará, ingá, bacuri, banana, pitanga, cerâmica, armas e ornamentos indígenas, espinha de peixe, casco de tartaruga, queijos, pães, cocadas, camarão, rala-rala, beiju, cuias de tacacá, sorvete, picolé, iguarias das comunidades italianas (pizza de pirarucu, calzone de pato-no-tucupi com jambu, tapioquinha no leite-de-coco, recheada de "nutella" e coco ralado, servida na folha de bananeira, já pensou?) e judaicas residentes no município, Guaraná FRAN (será que ainda existe a fórmula?) etc.

Pizza de Bacalhau da Noruega.
Trocando por Pirarucu da Amazônia, alguém já provou?

Passemos ao SELO DE QUALIDADE. Nada disso vai fazer ninguém parar em Óbidos se não existir algo que faça a diferença, pois é de esperar que logo tudo seja copiado e imitado. Prontinho!


Com tecnologia necessária para evitar falsificação.

Nada de siglas e abreviações. Uma coisa que o nativo de Óbidos tem para exportação é talento para o humor. Imaginemos a sigla P.O.O. para "Produto Original Obidense" no selo. Vai que um turista come alguma coisa estragada no navio e, ainda sem passar mal, visita a cidade, come algum produto obidense de ótima qualidade e morre na cidade. A sigla rapidamente passaria para "Provoca Óbito em Óbidos". Nem pensar! Para ganhar boa fama precisa muito tempo, mas para acabar com ela, alguns poucos segundos.

Nem vale a pena se preocupar com a imitação espoca-bode. Na avenida principal e no ponto mais nobre só tem uma cidade: ÓBIDOS.

A maluquice teria que gerar riqueza para toda a sociedade local. Chegamos aos caras: Políticos. Precisariam trabalhar um pouquinho para:

1. Firmar convênios com Universidades e centros de pesquisa para obtenção de tecnologia, know-how e cérebros científicos capazes de transformar idéias malucas em produtos e dinheiro.
2. Criar um polo interno produtivo municipal e um espaço na beira do rio, moderno, agradável, de fácil acesso, que não tire a vista da cidade, mas, ao contrário, a faça ainda mais bonita e atraente, para a construção do "MERCADINHO OBIDENSE", com barracas simples, de madeira, padronizadas, limpas, higiências e ocupadas por pessoas selecionadas tendo como base única e exclusivamente o mérito, talento, experiência e treinamento para a produção daquilo que pretende vender.
3. A propaganda em grande escala por toda a região e mundo.

- Quanto custaria isso? - Hum... refaça a pergunta. - Qual a relação custo x benefício do investimento? - Melhorou. Encomende um estudo e descubra.

Vai ter sempre a turma do contra que dirá que o belo de Óbidos é ser como é... que o cabloco lá quer saber disso... que basta jogar a vara, pegar o peixe e dormir a sesta... que todo mundo é feliz assim... blablablá... Pode ser. Não sei se pode dizer o mesmo dos tantos obidenses que estão nas periferias das grandes cidades lutando e sobrevivendo sabe lá como.

Até quando vamos exportar matéria-prima a preço de banana e importar produtos industrializados a preço de ouro? O país é rico, a região amazônica é riquíssima, mas a gente é pobre. Tem alguma coisa que não enquadra. O povo pode continuar ali, conformado, sentado à beira do rio, com a boca cheia de dentes (ou não), esperando que aconteça um milagre, descubram petróleo, ouro e bauxita que, quando acabam, deixam nada além de crateras e lembranças de um ciclo, ou tomar conta do destino e fazer acontecer um futuro rico e sustentável enquanto for rica e sustentável a natureza que lá está.

Enfim, o segredo prometido: TRABALHO + PAIXÃO.

Idéias malucas concretizadas, se vingarem algumas, certamente, dentro de alguns anos não passará um navio que o comandante não seja obrigado a encostar pelo menos uma hora no "MERCADINHO OBIDENSE", da cidadezinha rica nos cafundós da Amazônia.

Um comentário:

  1. Bingo!
    É simples assim: Trabalho + Paixão!
    Eu comi um doce de leite com farinha tapioca... Hum...

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