quarta-feira, 25 de agosto de 2010

JARDINS DA BABILÔNIA

"Tem gente que pensa que todo artista é rico. Numa época eu até fui, mas fumei, cheirei e bebi tudo. Hoje moro no mato e 'trampo' para pagar as contas", escreveu Rita no Twitter. (Folha Online - 24/08/2010). Cigarras... dificilmente serão formigas, mesmo quando param de cantar, afinal, quem nasceu pra lagartixa nunca chega a jacaré. A recíproca não é verdadeira.

São as águas de agosto fechando o verão acima do equador
É a promessa de vida no meu coração...

Hoje uma amiga paraense que mora nos EEUU conversou comigo pelo MSN. Disse que esteve recentemente em Belém e pagou R$ 5,00 por 2 mangas. O trânsito, a violência, o preço das coisas, tudo assusta. O Conservatório Carlos Gomes está caindo aos pedaços. Que triste... A turma do SAM (Serviço de Atividades Musicais da UFPa.), segundo ela, está melhor. Se bem me lembro, sempre esteve. Federal, né?

A Fundação Carlos Gomes... a Fundação... funda... são poucos. De vez em quando um cruzeiro pela Europa renova o talento dos privilegiados.

Como assim R$ 5,00 por 2 mangas? Elas caem na cabeça da gente em Belém! Pior é saber que a melancia, o melão, as bananas e outras frutas tropicais de excelente qualidade que comprei com a Marta hoje no supermercado, em Roma, pagando, no total, € 8,00, são importadas quase todas da África e da América Latina, incluindo, claro, o Brasil. O salário mínimo aqui é pelo menos 3x o brasileiro. Mas a culpa é da Rita Lee, maloqueira!

Bem, pelo menos o Tiririca é candidato a Deputado Federal por São Paulo. O Brasil sempre foi governado por homens sérios, sóbrios, poliglotas, eloquentes, intelectuais, elegantes, ricos, bonitos, com afetado ar aristrocrático, inglês. Mais de 500 anos se passaram e o país continua uma república de tiriricas.

Lula inaugurou a era do Brasil diante do espelho, mas, como M. Jackson, com o tempo, também demonstrou um sonho de sangue azul. É o fim da picada da tal mosca do poder.

Tiririca Dorian Gray: Um quadro que brasileiro não consegue olhar, pois vê o quanto está velho como povo, moribundo e com uma enorme bola vermelha na ponta do nariz. Pior do que está não fica. Piada? Pois sim! Tem honorável ladrão com a "ficha limpa" pedindo voto. E vai se eleger!!!

Neste Diário, lamento pelo Conservatório. Pensei que depois de tanto tempo e investimento estariam ali hoje grandes mestres, excelentes cursos, intercâmbios, orquestras... observadas as devidas proporções, mais ou menos como a Accademia Belle Arti de Roma. Passei lá com minha filha que pensa, no futuro, em ser aluna. Incrível!

Me resta nada além de continuar acreditando que o Brasil vai! Espero apenas que não para o brejo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

MEMUS

MEMÓRIA MUSICAL - MEMUS

Este é o nome de um joguinho que inventei para meus alunos. A primeira versão era em papelão desenhado com caneta colorida e se jogava na mesa ou no chão. Depois, tentei passar para computador e consegui apenas o primeiro nível. No total são 7 níveis: Clave de Sol, 2 Claves de Fá e as 4 Claves de Dó.

Gosto muito de informática, mas meu conhecimento de programação é limitado. Tentei encontrar quem soubesse mais do eu e pudesse encarar o joguinho como um projeto de criação, mas eu morava no Brasil. Talvez na américa de cima eu tivesse até, quem sabe, ganhado um dinheirinho. Tudo bem. Digamos que a alegria da molecada jogando e aprendendo tenha compesado o esforço. Filantropia... ufa!

Funciona assim:

1. 20 cartas na tela, sendo 10 pares:

2. Os pares apresentados aos jogadores:

3. Cartas embaralhadas:

4. Par correto:

5. Par errado:
 

6. Manual de Instrução:
 

Detalhe: Cada carta de uma nota na Clave de Sol, quando virada, emite, com som de Piano, a nota correspondente, afinada com diapasão A=440Hz.

A idéia era que, após a Clave de Sol, os jogadores pudessem ir acrescentando as demais Claves, até chegar ao último nível. Cada Clave teria uma cor diferente e as cartas com o nome das notas teriam, no canto superior, o desenho da clave com qual fariam par.

10 anos de Conservatório me incetivaram a procurar caminhos para uma educação musical divertida, afinal, da turma de 40 alunos da qual fiz parte, só dois terminaram o curso. O MEMUS foi uma dessas tentativas. Ainda está no meu computador. O arquivo é leve. Quem quiser, basta pedir. GRÁTIS!

domingo, 22 de agosto de 2010

VIKRAM SETH


Passeando em um centro comercial de Roma, entrei em uma livraria e descobri por acaso o autor deste livro que li no início de 2010. São 462 páginas de uma interessante história, cujo resumo da contracapa segue abaixo em uma tradução livre do italiano, feita por mim.

O amor pela música, a música do amor. Um encontro casual em um ônibus de Londres, uma carta que não deveria ser lida, uma pianista com um segredo que toca o coração da sua música. E, ainda, a procura de um raro quinteto de cordas de Beethoven e um violino amado com obsessão, mas nunca possuído... Depois de "Il ragazzo giusto", Vikram Seth nos prende ainda com um romance que é ao mesmo tempo uma história de amor, intensa e atormentada, e uma meditação profunda sobre a música (e sobre ser musicista) e como a paixão por esta arte possa se transformar no tema dominante e constante de toda uma vida. Brilhante e envolvente, tocante e refinado, este romance confirma o extraordinário talento narrativo de Vikram Seth: a sua capacidade de criar, através de uma multiplicidade de detalhes, ilusões da vida e de fascinar o leitor até a última página.

"Vikram Seth sabe criar um universo sedutor e inesquecível que ressoa muito depois de lida a última página." (Sunday Telegraph)

Vikram Seth nasceu em Calcutá em 1952. Depois de haver estudado Economia na Standford University, viajou muito, passando longos períodos na Inglaterra, Califórnia, India e China. Publicou "The Golden Gate" (1986), romance em versos concebidos como homenagem a "Evgenij Onegin", di Puskin, "Autostop per l'Himalaya" (1983) e, com Longanesi, além de "Una musica costante" (1999), "Il ragazzo giusto" (1993), o romance que o fez obter atenção da crítica e do público internacional, e "Due vite" (2006).

Li "Una musica costante", gostei, recomendo, inclusive a receita da página 377 (versão italiana) de cerejas amarelas congeladas no "freezer" e descongeladas no microondas em 30 segundos. Delícia!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

HINO DE ÓBIDOS

Peço licença aos obidenses para o que segue.

Há tempos, cutucado por uma brincadeira de um grande amigo espoca-bode, o Francisco Mileo, tenho pensado musicalmente no Hino de Óbidos, cidade que aprendi a amar. Diz o Chiquinho, pessoa de humor inteligente e excelente formação acadêmica, que o refrão do Hino cantado é: “Ó, Bidus!”, a Sayão e um personagem de história em quadrinhos do Mauricio de Sousa (Turma da Mônica).

Particularmente, acho o Hino obidense muito bonito. Uma bela inspiração de um grande Poeta o qual respeito e não ouso profanar a obra, razão pela qual escrevo.

Sem grandes pretensões, mas apenas como homenagem, gostaria de gravar um vídeo com imagens da cidade tendo como trilha sonora o instrumental do Hino com a letra legendada. Para isso, preciso ter certeza do texto.

Entrei em contato privadamente com o Luiz Arthur, herdeiro principalmente do talento do autor do Hino, Poeta Saladino de Brito, que se mostrou disponível para ajudar no que fosse preciso.

Trocamos algumas figurinhas. Enviei para ele um arquivo com o esboço do instrumental (que inclusive esta disponível no Portal), uma cartilha sobre o Hino Nacional e minhas dúvidas em relação ao texto.

A cartilha sobre o Hino Nacional foi idealizada e lançada em Fortaleza pelo Distrito LA-4, do Lions Club, do qual regi o Coral por 10 anos. Traz uma completa explicação da letra do Hino Nacional frase por frase, estrofe por estrofe, afinal, muitos cantam, mas poucos compreendem o que estão cantando. “Do que a terra mais garrida”, por exemplo. As pessoas decoram e repetem sem entender, mais ou menos como fazem os psitacídeos.

Agora, com a presença da A.A.L.O. em Óbidos, pensei que talvez se pudesse criar uma cartilha como essa, contendo os 3 hinos, Nacional, Estadual e Municipal, devidamente explicados para distribuição gratuita nas escolas. Também para este escopo a letra do Hino de Óbidos deve estar revisada, pois, como acontece no Hino Nacional, um simples acento indicador de crase pode mudar totalmente o sentido de uma frase. Exemplo: OUVIRAM DO IPIRANGA AS MARGENS PLÁCIDAS e OUVIRAM DO IPIRANGA ÀS MARGENS PLÁCIDAS. Não são poucas as letras impressas do Hino Nacional com esse problema, inclusive algumas timbradas como “oficiais”. No primeiro caso, sem crase, quem ouve são as margens. No segundo, quem estava nas margens do rio. De acordo com alguns estudiosos, entre os quais o Prof. Pasquale, a primeira forma é a correta, conforme escrita pelo autor da letra, Joaquim Osório Duque Estrada.

A palavra ÓBIDOS é proparoxítona. Não é fácil cantar proparoxítonas. Na Igreja, geralmente “EsPÍrito” vira “EspiRÍtu” ou “EspiriTÚ”. São poucas proparoxítonas na língua portuguesa. A coisa é tão complicada que Chico Buarque fez desse desafio uma obra-prima jogando com elas na música CONSTRUÇÃO:

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acbou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

O valor está principalmente em fazer coincidir o tempo forte da música com a silaba forte da palavra, conhecida como Prosódia musical. 1. Mús. Ajuste das palavras à música e vice-versa, a fim de que o encadeamento e a sucessão das sílabas fortes e fracas coincidam, respectivamente, com os tempos fortes e fracos dos compassos. (Dicionário Aurélio Século XXI)

No caso do Hino de Óbidos, alguns pequenos problemas de prosódia são perfeitamente fáceis de resolver. No refrão, basta cantar ÓBIDOS de uma vez, como se tomasse um susto: ÓBIDOS!, uma pequena pausa, “és minha terra” etc. “Óbidos, estás inteiRÁ” basta aumentar o tempo da pausa e dizer a segunda parte de uma vez: “estás inTEIra”. Na última estrofe, “és rincão da teRRÁ brasileira” se resolve cantando “és rincão - pequena pausa - da TErra brasileira”. Essas sutis alterações estão no arquivo instrumental (e experimental) que eu fiz e o Luiz Arthur disponibilizou no Portal.

Até aqui não foi alterada uma virgula no texto original. O problema maior vem agora. Com o passar do tempo, mais ou menos como naquela brincadeira do telefone sem fio, algumas letras vão sendo trocadas, outras omitidas e outras acrescentadas.

No vídeo que gravei com o Hino de Sant’Ana me veio a dúvida: FOSTE ou FOSTES PREFERIDA. Muito comum esse tipo de confusão. Pior, só encontrei um apoio para opção que escolhi: ROGAI POR NOS. Fiquei com FOSTES (VÓS). Espero ter acertado.



Lendo a poesia disponível no Portal e tentando entender a letra, não tenho certeza, mas me parece que isso também se deu com o Hino de Óbidos. Posso estar totalmente enganado e, se estiver, desde já, apresento meu pedido de desculpa. Arrisquei, na minha infinita ignorância, revisar e organizar o texto que resultou assim:

HINO DE ÓBIDOS
Letra e Música: Saladino de Brito
Lei No 2.600 de 27 de Junho de 1974

Sentinela que guarda a riqueza / desse vale imenso, sem par,
Podes bem ser chamada Princesa / das belezas do grande Rio-Mar.
Os teus filhos são bem brasileiros, / são valentes e sabem lutar.
E trabalham ao sol altaneiros, / sempre avante, não sabem parar!

Óbidos, és minha terra! / Óbidos, és meu torrão!
Óbidos, estás inteira / dentro do meu coração!

Já tens glórias passadas que a História / podes bem com justiça assentar.
Não são gestos falazes da vitória / que soubeste tão bem conquistar.
És a filha do Rio Amazonas / e conheces o seu murmurar:
Onde estás é a única zona / por onde ele tem que passar.

Óbidos, és minha terra! / Óbidos, és meu torrão!
Óbidos, estás inteira / dentro do meu coração!

Tuas noites são bem estreladas / e o teu céu é o mais puro azul.
E são claras as tuas madrugadas / quando sopra o vento taful.
És rincão da terra brasileira, / na Amazônia és forte e viril.
Vives sob a mesma bandeira / que tremula em todo o Brasil.

Óbidos, és minha terra! / Óbidos, és meu torrão!
Óbidos, estás inteira / dentro do meu coração!



Como sou nada, sou ninguém, para piorar, nasci em Belém e não tenho nenhuma autoridade intelectual para tamanha ousadia, passo a bola para os obidenses que, tenho certeza, poderão realizar um profundo estudo desse belo Hino e, assim, contribuir para que as gerações futuras o cantem mais e melhor. Ou deixamos tudo como está e mandamos o Chiquinho espocar o bode dele lá em Oriximiná que, aliás, tem Hino? (brincadeira... um abraço ao povo de Oriximiná!).

No meu arquivo instrumental fiz também qualquer alteração na HARMONIA, mas respeitei totalmente a MELODIA, pois essa, como a LETRA, é propriedade intelectual do Poeta Saladino de Brito e ambas devem ser tratadas com o máximo respeito.

Encerro pedindo apenas que se alguém se interessar por este assunto entre em contato comigo e me ajude a produzir um belo vídeo para a nossa bela ÓBIDOS.

Obrigado!

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Nota: Este texto foi publicado na Internet no início de 2010. Não tendo recebido material visual, resolvi editar o video cujo resultado ficou assim por enquanto, até o dia que eu vistar Óbidos outra vez.