quinta-feira, 25 de setembro de 2008

BUSH E CORO CAPPELLA SISTINA

Devo iniciar dizendo que não tenho a menor admiração por esse senhor, mas, de uma forma ou de outra, é o homem mais poderoso do mundo. Aconteceu em Julho de 2008, durante a visita ao Papa, mas só agora, na abertura do ano escolástico, a Schola Puerorum della Cappella Musicale Pontificia Sistina distribuiu cópia aos pais dos alunos. Trata-se de uma carta (abaixo) de George W. Bush, Presidente Americano, ao Coro Cappella Sistina, agradecendo por ter cantado para ele e esposa nos jardins Vaticanos. Como pai do primeiro brasileiro a integrar o grupo, chuto para longe a modéstia e admito que o fato me enche de alegria por atestar, de certa forma, o Coral como um dos melhores e mais importantes do mundo.

terça-feira, 8 de julho de 2008

VIRANDO PÁGINA

É PRECISO SABER, SEMPRE, QUANDO ACABA UMA ETAPA DE VIDA.

Se insistimos em permanecer nela, depois do tempo necessário, perderemos a alegria e o sentido do resto. Fechando círculos, fechando portas ou fechando capítulos, como queira chamar, o importante é poder fechá-los, deixar ir momentos da vida que se vão enclausurando. Terminou seu trabalho? Acabou a relação? Já não mora mais nessa casa? Deve viajar? A amizade acabou? Você pode passar muito tempo do seu presente dando voltas ao passado, tentando modificá-lo... O desgaste será infinito, porque na vida, você, seus amigos, filhos, irmãos, todos estamos destinados a fechar capítulos, virar páginas, terminar etapas ou momentos da vida, e seguir adiante. Não podemos estar no presente sentindo falta do passado. O que aconteceu, aconteceu. Não podemos ser filhos eternamente, nem adolescentes eternos, nem empregados de empresas inexistentes, nem ter vínculos com quem não quer estar vinculado a nós. Os acontecimentos e as pessoas passam por nossas vidas e temos que deixá-los ir! Por isso, às vezes é tão importante esquecer de lembrar, trocar de casa, rasgar papéis, jogar fora presentes desbotados, dar ou vender livros... Na vida ninguém joga com cartas marcadas, e a gente tem que aprender a perder e a ganhar. O passado passou: não espere que o devolvam. Também não espere reconhecimento, ou que saibam quem você é. A vida segue para frente, nunca para trás. Se você anda pela vida deixando portas "abertas", nunca poderá desprender-se, nem viver o hoje com satisfação. Casamentos, namoros ou amizades que não se fecham, possibilidades de "regresso" (a quê?), necessidade de esclarecimentos, palavras que não foram ditas, silêncios...Fazer a faxina emocional e arrumar espaço nas gavetas do futuro para o novo. Não por orgulho ou soberba, mas porque você já não se encaixa alí, naquele lugar, naquele coração, naquela casa, naquele escritório, naquele cargo... Você já não é o mesmo que foi há dois dias, há três meses, há um ano... portanto, nada tem que voltar. Feche a porta, vire a página, feche o círculo! Você nunca será o mesmo, e nem o mundo à sua volta, porque a vida não é estática. Faz bem à saúde mental cultivar o amor por você mesmo, desprender-se do que já não está em sua vida. Lembre-se de que nada, nem ninguém, é indispensável... É um trabalho pessoal aprender a viver com o que dói, deixar-se ir e aprender a desprender-se. E isso o ajudará definitivamente a seguir para a frente com tranqüilidade. Essa é a vida que todos precisamos aprender a viver... "E assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é. As coisas velhas já passaram. Eis que tudo se fez novo". II Corintios 5, 17
Autor: Ir. José Roberto

domingo, 24 de fevereiro de 2008

TEORIA DA FORÇA NEGATIVA

Como foi descoberta a Força da Gravidade? Um dia, uma maçã (ela, novamente!) caiu na cabeça de alguém que, então, pensou: “por qual motivo esta fruta caiu e não subiu?”.
Absolutamente nenhuma fonte de conhecimento é mais rica do que a própria natureza, a vida, o mundo. Observando cuidadosamente tudo isso, penso ter descoberto mais uma força que rege este planeta e que ainda não foi considerada e estudada como deveria pela ciência. A ela chamei de Força Negativa, cuja atuação descrevo a seguir:
1. Para existir a luz é preciso uma fonte. Para existir a treva não precisa nada.
2. As flores mais bonitas que existem são raras e precisam de cuidados especiais. As ervas daninhas e matos nascem sem cuidado algum, sem que ninguém precise plantar, regar ou cuidar.
3. Para um ser vivo ou objeto ficar limpo, é preciso uma série de cuidados higiênicos e de limpeza. Para ficar sujo, não precisa fazer esforço algum.
4. Para construir uma casa, uma história de vida honrada, criar filhos, ganhar dinheiro, é preciso tempo, trabalho, dedicação, esforço, sacrifício. Para perder tudo isso, basta uma fração ínfima de tempo.
5. Para manter a ordem é necessário um aparato social como leis, religião, polícia etc.. Para a desordem não precisa nada.
6. Os animais bonitos, de boa convivência com os seres humanos ou que geram alguma fonte de riqueza, precisam de muito zelo e cuidado especial. Os ratos, baratas e peçonhentos em geral sobrevivem sem necessidade de cuidado algum.
7. Para obter conhecimento é preciso estudo. Para a ignorância não precisa nada.
8. Os miseráveis do planeta são milhões. Os abastados são milhares.
9. A mídia prefere contar a história dos Hitlers do que a história das Madres Tereza.
10. Na matemática, + e - = -
Imaginemos agora um mundo sob o domínio da Força Positiva.
1. Um dia a vida na Terra vai acabar pelo simples fato de que a fonte de luz e calor, o Sol, vai apagar e a treva reinará absoluta. Em um planeta dominado pela Força Positiva, o Sol não existiria. A luz seria constante, sem necessidade de fonte, que passaria a ser uma exigência para existência da treva.
2. O planeta seria todo florido e perfumado naturalmente. Para existir mato e erva daninha, alguém teria que plantar.
3. Ninguém precisaria tomar banho, escovar os dentes, limpar os móveis, lavar o carro. Tudo seria auto-limpante. Seria preciso pagar alguém para sujar tudo.
4. O que a vida oferece de bom seria conseguido fácil e rapidamente, sendo necessário um grande esforço para gastar dinheiro e perder tudo que é precioso para cada um.
5. A sociedade viveria em perfeita harmonia, em completo estado de graça, no paraíso. Para gerar o caos seria necessário criar leis, força contra-policial, anti-religião etc..
6. O mundo seria infestado de coelinhos, colibris e borboletas. Para uma barata existir, teria que ser criada em cativeiro, com ração e cuidados especiais.
7. Todo mundo nasceria sabendo tudo. Para apagar algum conhecimento indesejado, seria necessário freqüentar a contra-escola.
8. Todos seriam ricos e abastados. Para ser miserável seria necessário grande esforço.
9. As novelas e programas jornalísticos, enfim, toda a mídia contaria preferencialmente a história dos santos.
10. Na matemática, + e – seria = +
Gênios como Bach, Beethoven, Mozart, Da Vinci, Michelangelo e, sem dúvida alguma, Freud, existiram para explicar. Assim sendo, embora acreditando haver um mundo oposto deste, como reflexo em um espelho, em outra dimensão, dominado pela Força Positiva, sou peregrino neste caos da Força Negativa e, como tal, só me resta concordar com a Psicanálise e o seguinte princípio freudiano:
“A sociedade civilizada está perpetuamente ameaçada pela desintegração por causa dessa hostilidade primária dos homens entre si... A cultura tem de recorrer a todo esforço possível a fim de erigir barreiras contra o instinto agressivo dos homens... Daí... seu mandamento ideal de amor ao próximo como a si mesmo ser realmente justificável pelo fato de que nada está tão completamente em desacordo com a natureza humana original” (Freud (1930), cit. por Walker, 1957, p.3).

O DETALHE

Aos meus coralistas, na esperança de que jamais, a cada um, possa escapar o mínimo detalhe de uma obra musical.
Comentário sobre a “Messe de Notre Dame” (Machaut).
“(...) Quero mencionar que são os detalhes que fazem a beleza da arte, por isso a música, a escultura e as demais artes se tornam tão importantes. É o conjunto de detalhes que fazem dessa missa uma pérola, e o mesmo acontece com as demais obras artísticas. Veja uma escultura do barroco, são os detalhes dessa arte que fazem a beleza dos trabalhos. Uma certa vez Michele Angelo estava preocupado com um detalhe em uma de suas esculturas, e aí um transeunte chegou a ele e falou, "... senhor porquê o senhor está tão preocupado com esse detalhe? Afinal nesse local ninguém vai ver, e mesmo que veja, para mim tudo está perfeito..." Aí o artista respondeu: "... caro senhor, para o senhor este detalhe pode não ter a menor importância, mas posso lhe assegurar que para mim este detalhe é crucial para a conclusão desta obra... e mais ninguém sabe como poderia ser, mas eu e Deus sabemos como eu deveria ter feito e se o não fiz minha consciência exigirá que eu termine esta obra nos mínimos detalhes". Só para mostrar que os detalhes são mais importantes do que se imagina. Se observarmos, por exemplo a quinta sinfonia de Beethoven, o pequeno detalhes formado por quatro notas faz surgir uma das mais importantes obras de arte do compositor. São os detalhes que fazem a diferença.” (Maestro Emanuel Martinez).
"Debussy era um artífice imensamente hábil e consciencioso. Levou dez anos escrevendo e reescrevendo até ao último instante sua única ópera, 'Pelléas et Mélisande'. Corre uma história de que quando Gatti-Casazza, diretor-geral do Metropolitan Opera de Nova York, foi a Paris depois do sucesso de Pelléas na esperança de obter os direitos de sua nova ópera, Debussy lhe disse que ainda estava na fase do planejamento.
- Eu posso esperar dois ou três meses - declarou Gatti.
- Dois ou três meses? - exclamou Debussy - Esse tempo eu levo para me decidir entre dois acordes!" (Grandes Mestres da Música)
Quando fiz "master class" de Piano com Arnaldo Cohen, ele disse que ficava horas tentando obter o som perfeito de uma única nota de uma peça musical ao piano.
Que busquemos apurar nossas vozes e ouvidos para que a cor e o detalhe sejam características inexoráveis do nosso coral.

A IGREJA E A CASTIDADE

Na recente onda de escândalos sexuais envolvendo religiosos católicos, me causa espanto ler, ver e ouvir diversas opiniões e análises, na maioria, superficiais, sobre o assunto e, principalmente, sobre a castidade.

Quase sempre os articulistas são ateus metidos a “cientistas” ou, quando muito, aqueles “católicos” que só entram na igreja em ocasiões das quais não podem fugir, pois que fizeram do comodismo sua religião, justificando que Deus está em todo lugar, inclusive na televisão aos domingos, não sendo capazes de entender que uma visita ao templo pode ser muito mais para meditar e agradecer do que pedir e sofrer.

Fico preocupado também ao ver os demais religiosos dando explicações tão superficiais quanto a dos acusadores, interlocutores e donos do saber, deixando o povo e os fiéis quase que perdidos e sozinhos no mar de lama, tendo que depositar toda a fé nas mãos de Deus se não quiserem perecer.

Não pretendo esclarecer o mundo sobre o que está acontecendo, nem muito menos ser o arauto da verdade, mas gostaria de convidar as pessoas a uma reflexão mais profunda, lendo, sem ardor fundamentalista, a Bíblia que, para os que acreditam, é a palavra viva de um Deus vivo e verdadeiro. Nela é possível encontrar razões e respostas para aquilo que o mundo racional não consegue entender nem muito menos explicar.

Vamos considerar o seguinte:

1. A Igreja não sai pelo mundo caçando candidatos a Padre ou Freira, obrigando estas “pobres vítimas” a se trancafiar por décadas em um seminário, tolhendo-lhes a vida sexual de forma compulsória. Com algumas exceções (sempre elas!), entra para a vida religiosa quem se sente chamado e vocacionado. Quem conhece o processo de formação de um religioso sabe quantas vezes o(a) aspirante a tal vida tem a chance de desistir e voltar para a vida normal do mundo na hora e no tempo que desejar, até mesmo depois de ordenado(a).

2. Mesmo com o fim do celibato obrigatório, muitos religiosos continuariam com o desejo de viver a castidade e, assim, consagrar toda sua vida a Deus. Se isso fosse causa de desvio de conduta no que se refere a sexualidade, os de vida sexual ativa não estariam também sendo citados nos recentes casos de pedofilia, sodomia, incesto, entre outros que sorrateiramente acontecem nas melhores famílias. Causas e soluções são assuntos para outra conversa.

Muitas explicações para a existência e manutenção do celibato na Igreja são lançadas pelo mundo afora e, como diz o ditado, uma mentira contada muitas vezes, acaba se tornando verdade. A mais comum delas é a de que, casando o Padre, o patrimônio da Igreja seria diluído em acordos de divórcios, herança etc. Os herdeiros dos Padres brigariam na justiça pela Basílica de São Pedro, pela Catedral de Notre Dame e assim por diante. Tudo bem. Que seja isso verdade. Mas será que também não merece consideração alguma as palavras deixadas na Bíblia, inclusive na dos irmãos Protestantes, escritas na 1ª. carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 7? Como aqui não cabe tudo, transcrevo alguns versículos, grifando que bom mesmo é ler o texto completo na própria Bíblia, para evitar que caia sobre mim a pecha de radical fundamentalista.

Diz:

24 Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado.
28 Mas, se te casares, não pecaste; e, se a virgem se casar, não pecou. Todavia estes padecerão tribulação na carne e eu quisera poupar-vos.
32 Pois quero que estejais livres de cuidado. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor,
33 mas quem é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar a sua mulher,
34 e está dividido. A mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor para serem santas, tanto no corpo como no espírito; a casada, porém, cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido.
35 E digo isto para proveito vosso; não para vos enredar, mas para o que é decente, e a fim de poderdes dedicar-vos ao Senhor sem distração alguma.
36 Mas, se alguém julgar que lhe é desairoso conservar solteira a sua filha donzela, se ela estiver passando da idade de se casar, e se for necessário, faça o que quiser; não peca; casem-se.
40 Será, porém, mais feliz se permanecer como está, segundo o meu parecer, e eu penso que também tenho o Espírito de Deus.

Algumas religiões cristãs permitem o casamento de seus líderes, mas, por outro lado, nenhuma delas tem o sacramento da comunhão e o dogma da transubstanciação. Explico mais adiante este parágrafo.

A Psicanálise difere a sexualidade humana da animal pelo fato de, na primeira, existir o que Freud chamou de “perversão”, aqui entendida de forma diferente da que estamos acostumados a ouvir por aí.

Enquanto no reino animal o ato sexual está resumido a reprodução, na humana vai muito além disso, sendo possível extrapolar os limites genitais, ou seja, um sapato pode ser tão excitante para alguns quanto um pênis ou uma vagina, sendo que o sapato, pelo menos até o momento, não é capaz de gerar outro ser humano.

Isto posto, é de se presumir que um sacerdote casado, como qualquer ser humano “quase normal”, não ficará restrito ao ato sexual reprodutivo, na tradicional posição papai-mamãe, embora seja esse o ideal religioso católico pregado para todos os fiéis, mas que sabemos, cumprido por pouquíssimos. Então, depois de um sábado festivo, como será celebrada a Missa do domingo, feita a consagração, a transubstanciação e a distribuição da comunhão pelas mãos e mentes de um sacerdote que passou a noite anterior fornicando e fazendo coisas que até o diabo duvida entre quatro paredes? E os problemas familiares? E o futuro dos filhos? E o dinheiro para o sustento da casa? E a mulher? E a sogra? E...

Não sou inocente e ingênuo para achar que isso não acontece hoje, mesmo com o celibato. Porém, esse é um assunto que será tratado pelo sacerdote diante de Deus um dia. Nem muito menos estou dizendo que sexo é sujo, nojento e pecaminoso. Jamais! No entanto, enquanto católico, prefiro sempre acreditar que, ao comungar, estou diante de alguém que, como diz São Paulo, não divide atenções com o mundo, mas cuida e se dedica exclusivamente ao espiritual e a Deus, sendo d'Ele um representante na Terra. Esse é o PADRE, com todas as letras maiúsculas, que todo católico deseja ter em sua paróquia.

No dia que isso não existir mais ou deixar de ser verdade, o mundo não vai acabar, mas também não será mais o mesmo, é claro. Melhor ou pior? Quem viver, verá! Eu espero já estar no céu.

A MÚSICA NA IGREJA

Santa Cecília

Trabalhando há muitos anos com corais, percebi, dentro da Igreja Católica, pontos interessantes relacionados com a música litúrgica e que chamaram minha atenção, forçando a realização destas anotações cujo único objetivo é incitar os dirigentes de coro, coralistas, religiosos, leigos e fiéis para o aprofundamento do tema e percepção da real importância da música no culto católico, para que essas pessoas, de fato, se questionem sobre o direcionamento de seus trabalhos ou simplesmente sobre as músicas que escutam e cantam em suas paróquias.

O que estou escrevendo não passou pela aprovação de nenhuma autoridade eclesiástica por um motivo simples: um dos grandes tesouros da Igreja Católica é a unidade na diversidade, ou seja, ela é única, ainda que sob seu manto cantem os Monges Beneditinos e a Renovação Carismática. Assim sendo, jamais poderei agradar a todos. Então, apenas escrevo como músico e cristão, católico, que resolveu aprofundar um pouco mais os estudos sobre música e liturgia. Se meus rabiscos estiverem de acordo com a vontade de Deus, certamente encontrarão guarida em alguns corações. Caso contrário, esquecidos ficarão pelos cantos da vida.

Para iniciar, transcrevo abaixo um texto que ganhei certa vez. Não sei quem é o(a) autor(a), pois na minha cópia esqueceram de citar o nome da obra e quem a escreveu. Já tentei encontrar esses dados, mas, até o momento, não consegui. Minha pesquisa continua e espero em uma próxima edição fornecer com exatidão a fonte. Talvez, em função disso, surja o questionamento de como posso elaborar um trabalho com base em escritos que talvez sejam “apócrifos”. Ora, o fato de, por enquanto, não ser possível citar a fonte, não tem muita importância, pois, se o texto não existisse, ainda assim minhas idéias seriam expostas pelo que aprendi com a prática dentro da própria Igreja e que, por coincidência, estão de acordo com o texto que escolhi. Vejamos:

REFLEXÃO SOBRE A MÚSICA NA LITURGIA

"Como as demais artes, também da música a Igreja se serve para abrilhantar o culto divino. A música é um dos meios mais dignos de se louvar a Deus, pois, por ser uma arte, ela procura inspirar-se na fonte de tudo que é belo e perfeito. Para ser admitida no serviço de Deus, a música deve tornar-se digna desta grandiosa vocação. Para Deus, só o melhor; para o culto divino, só o que há de mais perfeito. Existe uma música profana, uma música religiosa e uma música sacra. A primeira é arte do mundo, mais ou menos artística, destinada a deliciar os ouvidos e abrilhantar as festividades do mundo. É a música que se ouve nos teatros, nos concertos, nas festas profanas e em lugares de divertimentos. Esta espécie de música não serve para o culto divino e dele está excluída por princípio. Há ainda a música religiosa, que é bem diferente da primeira já mencionada. É uma música mais suave, que mais ou menos traduz os enlevos religiosos e os da alma; são composições que objetivam assuntos religiosos. Esta espécie de música dispõe dos recursos e dos meios de expressão da música profana, e dela tira o que precisa para exprimir o colorido do caráter que lhe é próprio. Há músicas religiosas que podem ser admitidas nas igrejas, o que depende do exame consciencioso de alguém que seja competente nesta matéria. A música sacra é a música própria da Igreja, a música litúrgica oficialmente aprovada e autêntica. A Igreja faz questão de ver observadas suas determinações relativas à música sacra; e grande é a responsabilidade das autoridades eclesiásticas neste particular. A música na Igreja não deve visar outra coisa senão a glória de Deus e a edificação dos fiéis. Admitir músicas profanas e indignas no culto divino é pecado, por ser uma profanação do templo de Deus e um escândalo para os fiéis. Aqueles que devem interessar-se mais de perto pela música sacra, não podem deixar de ler e estudar o Motu Proprio, de Pio X, sobre a música sacra, documento de alto valor, que é considerado o código musical da Igreja Católica."

Com o meu trabalho dentro das igrejas, percebi uma certa confusão. As pessoas hoje, até com o consentimento de alguns Padres, estão misturando tudo: música profana, religiosa e sacra. Ninguém sabe mais o que é cada uma e assim o profano se mistura com o sagrado de maneira lamentável.

O texto diz: “Para ser admitida no serviço de Deus, a música deve tornar-se digna desta grandiosa vocação. Para Deus, só o melhor; para o culto divino, só o que há de mais perfeito”. Alguém discorda? Dificilmente. Mas também poucos se negam a cantar músicas de Português sofrível e que fazem parte do repertório mundano. A intenção primeira do autor foi mesmo louvar a Deus ou vender milhões de discos? Precisamos pensar. Algumas dessas músicas estão no “Louvemos ao Senhor”, um tipo de hinário católico. Tocam nas igrejas, tocam nos botecos, tocam em qualquer lugar. E aí? Eu não estou dando respostas nem afirmando nada. Quero apenas questionar. Que cada um pare, pense, reflita e tire suas próprias conclusões.

Transcrevo, agora, algumas observações pessoais.

Nas Missas, poucos são os Padres e grupos de canto que escolhem o repertório de acordo com a liturgia. Essa teoria que prega o fim do coro (aquele lugar suspenso atrás dos templos, onde os corais cantavam) para que o povo participe mais da Missa, hoje, merece ser questionada, afinal, algumas igrejas só faltam colocar seus grupos de canto em cima do altar, com músicas e instrumentos musicais modernos e, ainda assim, os fiéis continuam indiferentes, apáticos, calados. A boa música religiosa não tem culpa do fracasso de ninguém. Se a Missa, por vezes, é um tédio, então, que os seminários formem melhor os Padres, pois muitos não sabem nem falar nem transmitir e explicar com clareza a palavra de Deus, quanto menos orientar o grupo de canto para bem realizar a função a qual se destina.

No mosteiro de São Bento, no bairro de Messejana, em Fortaleza, as Missas são todas acompanhadas por cantos gregorianos, em Latim, e a capela dos monges vive lotada de gente simples, sem muita formação musical. Essas pessoas não entendem nada? Certamente entendem mais as músicas em Latim do que algumas do jornalzinho “O Domingo” que, por vezes, não conseguem passar do teto das igrejas, muito menos chegar aos ouvidos de Deus. Querem que a assembléia cante? Publiquem e usem um hinário. É muito simples. Enquanto persistir essa troca constante de músicas no jornalzinho para ajudar na venda de impressos e CD’s, o povo continuará calado, indiferente ao estilo popular que esteja sendo introduzido em seus ouvidos, pois, como diz o texto, “admitir músicas profanas e indignas no culto divino é pecado, por ser uma profanação do templo de Deus e um escândalo para os fiéis”.

Muitos grupos de canto, hoje, se posicionam tão perto do altar que contribuem para desviar a atenção dos fiéis. Ao invés de concentrar a atenção no Cristo, no Padre, no altar, as pessoas ficam olhando um desfile de vaidade de músicos que, muitas vezes, usam as igrejas para vender seus trabalhos extensivos a casamentos, aniversários e demais cerimônias festivas.

Que os corais e grupos de canto não fiquem mais no “coro”, tudo bem, mas eles precisam entender que o anonimato valoriza mais o trabalho musical na Igreja. Podemos refletir essa questão, lendo Mateus 6,1: “Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus”.

Na Catedral de St. Patrick, em New York, até hoje, o Coral canta atrás, no fundo da igreja. E, por mais lindo que seja o que cantam, ninguém sabe quem é o dono da voz maravilhosa que fez um solo ou coisa parecida. Não no momento da Missa.

E quanto aos ritmos? Compor uma música religiosa em ritmo de forró vai agradar mais os fiéis nordestinos? Em ritmo de fandango agradará mais os gaúchos? Que tal se ao invés disso os compositores se preocupassem mais em agradar a Deus? Certamente, agradando a Deus, tocarão o coração dos fiéis que cantarão as músicas sem se importar com o ritmo escolhido. Sim, pois existem músicas “inspiradas” e “inventadas”. A grande diferença se faz sentir na voz do povo que, livremente, prefere cantar as primeiras.

Imagine uma festa de carnaval com uma orquestra tocando violinos. Parece bobagem, mas cada instrumento, cada timbre, tem uma cor especial que combina com determinado local ou evento. Assim, é melhor não subestimar o som do órgão (church organ) em uma cerimônia religiosa. Ele ainda é um importante recurso de elevação do espírito.

Atualmente estão reduzindo a importância da gramática a nada. Letras escritas de qualquer jeito, sem forma, sem rima, sem métrica e, pior, sem mensagem alguma, estão sendo empurradas nos ouvidos de quem tenta louvar a Deus cantando.

Existem paróquias com quase uma centena de pastorais! No entanto, entre esses números, não existe uma pastoral do canto. Como pode isso se a Missa é quase toda MÚSICA? Esse fato mostra bem a importância que essas paróquias dão ao canto litúrgico e explica, até certo ponto, o rumo das coisas. Nelas, a música é apenas “fundo”. Nada mais que isso.

Simplesmente alguns regentes, corais e grupos de canto ignoram coisas simples da música litúrgica como por exemplo: O ATO PENITENCIAL deve cantar SENHOR, CRISTO, SENHOR (Kyrie, Christe, Kyrie).

O GLÓRIA, embora cristológico, faz alusão à Trindade. Se assim não for, sob o ponto de vista litúrgico, a música não serve. Aquele “Glória” cuja letra diz: “Glória pra sempre ao Cordeiro de Deus, a Jesus, o Senhor, ao Leão de Judá...” não deve ser cantado em uma Missa. Pode ser cantado em um louvor ou adoração, mas não durante o “Glória” em uma Missa.

Vamos comentar todos os cânticos na ordem em que aparecem em uma Missa comum.

1. CANTO DE ENTRADA – Deve ser, sempre que possível, alegre. Um convide à adoração, ao louvor, ao culto.
2. ATO PENITENCIAL – Deve ser cantado com suavidade, com humildade. Não se pede perdão gritando, mas sim, implorando de todo o coração.
3. GLÓRIA – Barulho não significa alegria. Alguns grupos pensam que colocando pandeiro, bateria, cavaquinho, estarão sendo alegres. Nem sempre. A alegria vem de dentro e deve acontecer quando se canta aqui. Cuidado com músicas que não conseguem encaixar a proparoxítona ESPÍRITO e acabam martelando um ESPIRÍTO ou ESPIRITÚ. Estão inventando, no final, dar Glória à Trindade Santa. Por favor, não cometa esse sacrilégio!
4. SALMO – Deve ser cantado sempre. Se não todo, pelo menos o refrão, com uma “salmodia” simples que possa ser cantada pela assembléia.
5. ACLAMAÇÃO – Você já percebeu alguns cânticos que trazem “Aleluiá”? Que triste! Aclame o evangelho cantando ALELUIA!!! Nunca ALELUIÁ!
6. OFERTÓRIO – Dê preferência a um cântico que esteja de acordo com o momento litúrgico.
7. SANTO – O completo tem Santo, Hosana, Bendito.
8. PAZ – Um canto breve e fraterno.
9. Na hora da consagração não invente nada. Não tem música, nem som, nem ruído aqui.
10. Depois tem o “Amém”. Se possível, cante.
11. COMUNHÃO – Nada de barulho. Tente fazer com que as pessoas possam se encontrar com Deus dentro delas. A viagem deve ser pra dentro. Suavidade, mensagem, conteúdo.
12. AÇÃO DE GRAÇAS – Normalmente, durante este cântico, as pessoas que comungaram ainda estão contritas, em oração. Pense nisso e não as desconcentre, mas contribua, com sua música, para que a oração delas seja mais inspirada. Se quiser e puder, substitua a música pelo mais absoluto silêncio.
13. CANTO FINAL – Alegre, por favor! As pessoas devem sair da igreja com vontade de viver e não de morrer na esquina! Fé, confiança, segurança, alegria! Isso deve ter um bom canto final. Aliás, você sabe o que significa a palavra “MISSA”? Assim diz o Dicionário Aurélio: Verbete: missa [Do lat. tardio missa, f. substantivada do lat. mittere, 'enviar', da fórmula final do ofício religioso: ite missa est.]

Durante uma Missa comum, converse com o Padre sobre onde e como encaixar um canto sobre Maria ou outro Santo qualquer.

Algumas pessoas não se preocupam em ler totalmente a letra de uma música e assim vão encaixando absurdos que não têm nada a ver com nada. Exemplo: “Sobe a Jerusalém” no Natal. A música traz a palavra “Natal” e as pessoas cantam no Natal. Se lessem refletindo o resto da letra, perceberiam que diz “quando Deus morrer” etc. Ora, Ele acabou de nascer e já estão falando na morte? Uma Missa de Natal deve louvar a Jesus Cristo em toda sua plenitude! Deve fazer referência ao plano de salvação de Deus, ao resgate do homem pecador, enfim, deve ser uma Missa de louvor! Alegre! Festiva!

Durante alguns períodos litúrgicos, algumas músicas não devem ser cantadas. Por exemplo: Glória, no Advento. Nesse tempo, se a Missa for festiva, é melhor conversar com o Padre.

Antes de cantar uma música, reflita no que diz a letra. Tem quem diga não ser importante estar ou não a letra correta gramaticalmente, pois o que importa é a mensagem. Não é verdade! Uma letra com erros grosseiros de Português contribui para deteriorar o idioma, patrimônio cultural de um povo. Não seja cúmplice. Dê preferência para músicas bem escritas e cujas mensagens estejam de acordo com a liturgia.

Em cerimônias religiosas como casamento, aniversário, formatura etc., alguns “católicos”, que só freqüentam a Igreja nessas ocasiões, solicitam aos responsáveis pelo canto, músicas populares, de cinema, de televisão, de novela, enfim. Cabe a você, que faz do seu trabalho musical um instrumento de evangelização, mostrar a essas pessoas que, apenas no hinário “Louvemos”, existem mais de 1000 (mil) músicas apropriadas para qualquer tipo de cerimônia sendo, inclusive, na maioria das vezes, mais bonitas do que muitas dessas músicas mundanas solicitadas. Resumindo: faça tudo que for possível para não cantar música popular dentro do templo. Hoje existem profissionais cobrando verdadeiras fábulas para profanar os ouvidos de Deus com operetas populares. E o pior é que encontram quem pague por essa blasfêmia. A mesma música que toca no bordel e na ópera bufa é tocada dentro da igreja. Existe bom senso nisso?

Que Santa Cecília, a padroeira da Música e dos Músicos, nos inspire, cada vez mais, a louvar melhor a Deus com nossa Arte. Amém!