domingo, 24 de fevereiro de 2008

A IGREJA E A CASTIDADE

Na recente onda de escândalos sexuais envolvendo religiosos católicos, me causa espanto ler, ver e ouvir diversas opiniões e análises, na maioria, superficiais, sobre o assunto e, principalmente, sobre a castidade.

Quase sempre os articulistas são ateus metidos a “cientistas” ou, quando muito, aqueles “católicos” que só entram na igreja em ocasiões das quais não podem fugir, pois que fizeram do comodismo sua religião, justificando que Deus está em todo lugar, inclusive na televisão aos domingos, não sendo capazes de entender que uma visita ao templo pode ser muito mais para meditar e agradecer do que pedir e sofrer.

Fico preocupado também ao ver os demais religiosos dando explicações tão superficiais quanto a dos acusadores, interlocutores e donos do saber, deixando o povo e os fiéis quase que perdidos e sozinhos no mar de lama, tendo que depositar toda a fé nas mãos de Deus se não quiserem perecer.

Não pretendo esclarecer o mundo sobre o que está acontecendo, nem muito menos ser o arauto da verdade, mas gostaria de convidar as pessoas a uma reflexão mais profunda, lendo, sem ardor fundamentalista, a Bíblia que, para os que acreditam, é a palavra viva de um Deus vivo e verdadeiro. Nela é possível encontrar razões e respostas para aquilo que o mundo racional não consegue entender nem muito menos explicar.

Vamos considerar o seguinte:

1. A Igreja não sai pelo mundo caçando candidatos a Padre ou Freira, obrigando estas “pobres vítimas” a se trancafiar por décadas em um seminário, tolhendo-lhes a vida sexual de forma compulsória. Com algumas exceções (sempre elas!), entra para a vida religiosa quem se sente chamado e vocacionado. Quem conhece o processo de formação de um religioso sabe quantas vezes o(a) aspirante a tal vida tem a chance de desistir e voltar para a vida normal do mundo na hora e no tempo que desejar, até mesmo depois de ordenado(a).

2. Mesmo com o fim do celibato obrigatório, muitos religiosos continuariam com o desejo de viver a castidade e, assim, consagrar toda sua vida a Deus. Se isso fosse causa de desvio de conduta no que se refere a sexualidade, os de vida sexual ativa não estariam também sendo citados nos recentes casos de pedofilia, sodomia, incesto, entre outros que sorrateiramente acontecem nas melhores famílias. Causas e soluções são assuntos para outra conversa.

Muitas explicações para a existência e manutenção do celibato na Igreja são lançadas pelo mundo afora e, como diz o ditado, uma mentira contada muitas vezes, acaba se tornando verdade. A mais comum delas é a de que, casando o Padre, o patrimônio da Igreja seria diluído em acordos de divórcios, herança etc. Os herdeiros dos Padres brigariam na justiça pela Basílica de São Pedro, pela Catedral de Notre Dame e assim por diante. Tudo bem. Que seja isso verdade. Mas será que também não merece consideração alguma as palavras deixadas na Bíblia, inclusive na dos irmãos Protestantes, escritas na 1ª. carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 7? Como aqui não cabe tudo, transcrevo alguns versículos, grifando que bom mesmo é ler o texto completo na própria Bíblia, para evitar que caia sobre mim a pecha de radical fundamentalista.

Diz:

24 Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado.
28 Mas, se te casares, não pecaste; e, se a virgem se casar, não pecou. Todavia estes padecerão tribulação na carne e eu quisera poupar-vos.
32 Pois quero que estejais livres de cuidado. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor,
33 mas quem é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar a sua mulher,
34 e está dividido. A mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor para serem santas, tanto no corpo como no espírito; a casada, porém, cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido.
35 E digo isto para proveito vosso; não para vos enredar, mas para o que é decente, e a fim de poderdes dedicar-vos ao Senhor sem distração alguma.
36 Mas, se alguém julgar que lhe é desairoso conservar solteira a sua filha donzela, se ela estiver passando da idade de se casar, e se for necessário, faça o que quiser; não peca; casem-se.
40 Será, porém, mais feliz se permanecer como está, segundo o meu parecer, e eu penso que também tenho o Espírito de Deus.

Algumas religiões cristãs permitem o casamento de seus líderes, mas, por outro lado, nenhuma delas tem o sacramento da comunhão e o dogma da transubstanciação. Explico mais adiante este parágrafo.

A Psicanálise difere a sexualidade humana da animal pelo fato de, na primeira, existir o que Freud chamou de “perversão”, aqui entendida de forma diferente da que estamos acostumados a ouvir por aí.

Enquanto no reino animal o ato sexual está resumido a reprodução, na humana vai muito além disso, sendo possível extrapolar os limites genitais, ou seja, um sapato pode ser tão excitante para alguns quanto um pênis ou uma vagina, sendo que o sapato, pelo menos até o momento, não é capaz de gerar outro ser humano.

Isto posto, é de se presumir que um sacerdote casado, como qualquer ser humano “quase normal”, não ficará restrito ao ato sexual reprodutivo, na tradicional posição papai-mamãe, embora seja esse o ideal religioso católico pregado para todos os fiéis, mas que sabemos, cumprido por pouquíssimos. Então, depois de um sábado festivo, como será celebrada a Missa do domingo, feita a consagração, a transubstanciação e a distribuição da comunhão pelas mãos e mentes de um sacerdote que passou a noite anterior fornicando e fazendo coisas que até o diabo duvida entre quatro paredes? E os problemas familiares? E o futuro dos filhos? E o dinheiro para o sustento da casa? E a mulher? E a sogra? E...

Não sou inocente e ingênuo para achar que isso não acontece hoje, mesmo com o celibato. Porém, esse é um assunto que será tratado pelo sacerdote diante de Deus um dia. Nem muito menos estou dizendo que sexo é sujo, nojento e pecaminoso. Jamais! No entanto, enquanto católico, prefiro sempre acreditar que, ao comungar, estou diante de alguém que, como diz São Paulo, não divide atenções com o mundo, mas cuida e se dedica exclusivamente ao espiritual e a Deus, sendo d'Ele um representante na Terra. Esse é o PADRE, com todas as letras maiúsculas, que todo católico deseja ter em sua paróquia.

No dia que isso não existir mais ou deixar de ser verdade, o mundo não vai acabar, mas também não será mais o mesmo, é claro. Melhor ou pior? Quem viver, verá! Eu espero já estar no céu.

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