sexta-feira, 20 de agosto de 2010

HINO DE ÓBIDOS

Peço licença aos obidenses para o que segue.

Há tempos, cutucado por uma brincadeira de um grande amigo espoca-bode, o Francisco Mileo, tenho pensado musicalmente no Hino de Óbidos, cidade que aprendi a amar. Diz o Chiquinho, pessoa de humor inteligente e excelente formação acadêmica, que o refrão do Hino cantado é: “Ó, Bidus!”, a Sayão e um personagem de história em quadrinhos do Mauricio de Sousa (Turma da Mônica).

Particularmente, acho o Hino obidense muito bonito. Uma bela inspiração de um grande Poeta o qual respeito e não ouso profanar a obra, razão pela qual escrevo.

Sem grandes pretensões, mas apenas como homenagem, gostaria de gravar um vídeo com imagens da cidade tendo como trilha sonora o instrumental do Hino com a letra legendada. Para isso, preciso ter certeza do texto.

Entrei em contato privadamente com o Luiz Arthur, herdeiro principalmente do talento do autor do Hino, Poeta Saladino de Brito, que se mostrou disponível para ajudar no que fosse preciso.

Trocamos algumas figurinhas. Enviei para ele um arquivo com o esboço do instrumental (que inclusive esta disponível no Portal), uma cartilha sobre o Hino Nacional e minhas dúvidas em relação ao texto.

A cartilha sobre o Hino Nacional foi idealizada e lançada em Fortaleza pelo Distrito LA-4, do Lions Club, do qual regi o Coral por 10 anos. Traz uma completa explicação da letra do Hino Nacional frase por frase, estrofe por estrofe, afinal, muitos cantam, mas poucos compreendem o que estão cantando. “Do que a terra mais garrida”, por exemplo. As pessoas decoram e repetem sem entender, mais ou menos como fazem os psitacídeos.

Agora, com a presença da A.A.L.O. em Óbidos, pensei que talvez se pudesse criar uma cartilha como essa, contendo os 3 hinos, Nacional, Estadual e Municipal, devidamente explicados para distribuição gratuita nas escolas. Também para este escopo a letra do Hino de Óbidos deve estar revisada, pois, como acontece no Hino Nacional, um simples acento indicador de crase pode mudar totalmente o sentido de uma frase. Exemplo: OUVIRAM DO IPIRANGA AS MARGENS PLÁCIDAS e OUVIRAM DO IPIRANGA ÀS MARGENS PLÁCIDAS. Não são poucas as letras impressas do Hino Nacional com esse problema, inclusive algumas timbradas como “oficiais”. No primeiro caso, sem crase, quem ouve são as margens. No segundo, quem estava nas margens do rio. De acordo com alguns estudiosos, entre os quais o Prof. Pasquale, a primeira forma é a correta, conforme escrita pelo autor da letra, Joaquim Osório Duque Estrada.

A palavra ÓBIDOS é proparoxítona. Não é fácil cantar proparoxítonas. Na Igreja, geralmente “EsPÍrito” vira “EspiRÍtu” ou “EspiriTÚ”. São poucas proparoxítonas na língua portuguesa. A coisa é tão complicada que Chico Buarque fez desse desafio uma obra-prima jogando com elas na música CONSTRUÇÃO:

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acbou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

O valor está principalmente em fazer coincidir o tempo forte da música com a silaba forte da palavra, conhecida como Prosódia musical. 1. Mús. Ajuste das palavras à música e vice-versa, a fim de que o encadeamento e a sucessão das sílabas fortes e fracas coincidam, respectivamente, com os tempos fortes e fracos dos compassos. (Dicionário Aurélio Século XXI)

No caso do Hino de Óbidos, alguns pequenos problemas de prosódia são perfeitamente fáceis de resolver. No refrão, basta cantar ÓBIDOS de uma vez, como se tomasse um susto: ÓBIDOS!, uma pequena pausa, “és minha terra” etc. “Óbidos, estás inteiRÁ” basta aumentar o tempo da pausa e dizer a segunda parte de uma vez: “estás inTEIra”. Na última estrofe, “és rincão da teRRÁ brasileira” se resolve cantando “és rincão - pequena pausa - da TErra brasileira”. Essas sutis alterações estão no arquivo instrumental (e experimental) que eu fiz e o Luiz Arthur disponibilizou no Portal.

Até aqui não foi alterada uma virgula no texto original. O problema maior vem agora. Com o passar do tempo, mais ou menos como naquela brincadeira do telefone sem fio, algumas letras vão sendo trocadas, outras omitidas e outras acrescentadas.

No vídeo que gravei com o Hino de Sant’Ana me veio a dúvida: FOSTE ou FOSTES PREFERIDA. Muito comum esse tipo de confusão. Pior, só encontrei um apoio para opção que escolhi: ROGAI POR NOS. Fiquei com FOSTES (VÓS). Espero ter acertado.



Lendo a poesia disponível no Portal e tentando entender a letra, não tenho certeza, mas me parece que isso também se deu com o Hino de Óbidos. Posso estar totalmente enganado e, se estiver, desde já, apresento meu pedido de desculpa. Arrisquei, na minha infinita ignorância, revisar e organizar o texto que resultou assim:

HINO DE ÓBIDOS
Letra e Música: Saladino de Brito
Lei No 2.600 de 27 de Junho de 1974

Sentinela que guarda a riqueza / desse vale imenso, sem par,
Podes bem ser chamada Princesa / das belezas do grande Rio-Mar.
Os teus filhos são bem brasileiros, / são valentes e sabem lutar.
E trabalham ao sol altaneiros, / sempre avante, não sabem parar!

Óbidos, és minha terra! / Óbidos, és meu torrão!
Óbidos, estás inteira / dentro do meu coração!

Já tens glórias passadas que a História / podes bem com justiça assentar.
Não são gestos falazes da vitória / que soubeste tão bem conquistar.
És a filha do Rio Amazonas / e conheces o seu murmurar:
Onde estás é a única zona / por onde ele tem que passar.

Óbidos, és minha terra! / Óbidos, és meu torrão!
Óbidos, estás inteira / dentro do meu coração!

Tuas noites são bem estreladas / e o teu céu é o mais puro azul.
E são claras as tuas madrugadas / quando sopra o vento taful.
És rincão da terra brasileira, / na Amazônia és forte e viril.
Vives sob a mesma bandeira / que tremula em todo o Brasil.

Óbidos, és minha terra! / Óbidos, és meu torrão!
Óbidos, estás inteira / dentro do meu coração!



Como sou nada, sou ninguém, para piorar, nasci em Belém e não tenho nenhuma autoridade intelectual para tamanha ousadia, passo a bola para os obidenses que, tenho certeza, poderão realizar um profundo estudo desse belo Hino e, assim, contribuir para que as gerações futuras o cantem mais e melhor. Ou deixamos tudo como está e mandamos o Chiquinho espocar o bode dele lá em Oriximiná que, aliás, tem Hino? (brincadeira... um abraço ao povo de Oriximiná!).

No meu arquivo instrumental fiz também qualquer alteração na HARMONIA, mas respeitei totalmente a MELODIA, pois essa, como a LETRA, é propriedade intelectual do Poeta Saladino de Brito e ambas devem ser tratadas com o máximo respeito.

Encerro pedindo apenas que se alguém se interessar por este assunto entre em contato comigo e me ajude a produzir um belo vídeo para a nossa bela ÓBIDOS.

Obrigado!

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Nota: Este texto foi publicado na Internet no início de 2010. Não tendo recebido material visual, resolvi editar o video cujo resultado ficou assim por enquanto, até o dia que eu vistar Óbidos outra vez.

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