quinta-feira, 11 de agosto de 2011

VARIASONS

Não poderia faltar o tema. Demorou, afinal, as fotos que restaram estavam no Brasil.

O projeto, a história, o evento, um pouco de tudo já foi contado no livro "Decibéis sob Mangueiras", do escritor paraense Ismael Machado. Pulo.

Vou relatar aqui o caos, o pandemônio, os particulares que fizeram valer a pena cada minuto vivido naqueles anos musicais.

O livro "Musica Classica per Negati" conta que "algumas importantes obras de Bach foram salvas e conservadas apenas poucos momentos antes de servirem como papel para embrulhar peixe nas feiras". Muitas, aliás, tiveram esse fim. Possível imaginar o tesouro que se perdeu? Diz ainda o livro sobre "(...) a tradicional incapacidade do público em perceber a grandeza dos contemporâneos. São poucos os compositores e artistas que se tornaram famosos quando vivos. Bach foi muito conhecido, até venerado, ao seu tempo, mas como organista, não como compositor. As suas músicas ficaram no esquecimento por quase todo um século".

O filme "Amadeus" foi para as telas nos anos 90 e o que vou relatar aconteceu nos anos 80 em Belém do Pará. De qualquer modo, a conclusão final de Salieri sobre o domínio da mediocridade neste mundo e a necessidade de absolvição também era minha. A pedra filosofal do Variasons pretendia a alquimia de aproximar o imperfeito do perfeito, afinal, se o público, como diz o livro, tem dificuldade em perceber a grandeza dos contemporâneos, que dizer de meia dúzia de pretensos acadêmicos?

Meu objetivo era um palco com a melhor estrutura possível e em cima dele o desconhecido, o desacreditado, o gênio, o medíocre, o MÚSICO. Juiz: PÚBLICO.

Naqueles anos os tecladistas estavam em alta. Eram monstros respeitados. Egberto Gismonti, Wagner Tiso, Cesar Camargo Mariano, Chick Corea, só para citar alguns.

No meu pedacinho de mundo, lá estava eu como tecladista de uma banda cujos músicos possuiam os melhores e mais sofisticados instrumentos. Meu salário permitiu comprar o mais barato teclado Giannini com apenas 3 registros: Piano, Strings e Organ (hoje o brinquedo mais simples não tem menos de 100).

No Variasons era disponível para todos os músicos os melhores e mais caros instrumentos da época. Lá sim, era possível dedilhar um DX-7 Yamaha e outros modelos de marcas famosas tipo Roland, Korg, Kawai etc. O problema, no meu caso, era mais ou menos como um motorista de trator de repente ter que pilotar um jato 747. A idade e o raciocínio rápido que ela permitia facilitavam as coisas. E a gente pilotava!


Chega de relato pessoal. Já deu para perceber que o projeto veio para arrombar a festa! Se nos ambientes acadêmicos, públicos e oficiais o espaço era limitado aos gênios e panelinhas, no palco do Variasons subia praticamente todo mundo. Claro, eram apenas 3 noites e o tempo limitado, mas tentava ser o mais democrático (e anárquico) possível. Um exemplo? Muito bem! O que vem a seguir é um relato que está na comunidade "Variasons" do Orkut. O autor, músico, se chama Marcos Borges,  vive na França e gira a Europa e o mundo tocando. Segue o texto exatamente como ele escreveu e que me fez rir bastante!

variasons porta de entrada para a rapaziada
entao , praticamente vivenciei toda a trajetoria do variasons , me lembro dos grupos que iniciaram o evento XPTO , MOSAICO DE RAVENA, ECOS,,MORFEUS ( onde foi a grande estreia do grupo),ANJOS &DEMONIOS , REPRESSAO SUICIDA,GREEN HELL,O CRACK, GRUPO CHAMA,NECROPHAGY,dDELINQUENTES, GENOCIDE, ACIDO CITRICO ,NOSFERATUS,BLACK MASS,DNA,E TANTOS OUTROS;; entao voltando ao assunto ferrari junior musico pianista criou a ideia e concretizou solidamente o evento que era no ginasio do sesc da doca ,, depois passou para o centur ,, participei do evento pela primeira vez com o grupo de "METAL MACUMBA ' mais famoso de belem o MORFEUS na praça do povo do centur foi a estreia do grupo ,, e foi du "barbalho" foi a banda da noite quase o centur desaba dava pra sentir o palco tremendo , pois depois deste show o centur encerrou o variasons na praça por falta de estrutura e la vem o variason pro sesc novamente,,, depois participei de uma outra versao do variasons no ginasio do sesc , so que as reunioes do ferrari junior com os grupos eram feitas em uma tenda de circo atras do centur ,, e ai que entra minha estoria que ninguem (ou quase ) sabe ,,fui na reuniao de penetra onde estava uma porrada de gente parecia a "ARCA DE NOE" tinha de tudo ,punk, mataleiro , hippie, black metaleiro, carimbozeiro; mpbzeiro ;; ali o ferrari começou a selecionar os grupos ,a seleçao era complexa bastava dizer o nome do grupo e ja tava dentro ,, ai começou rolar os nomes ,delinquentes, black mass, terrorist, etc,,, derrepente o ferrari me olha e me pergunta e tu como se chama teu grupo?? e eu exitei um pouco e respondi " SCARFACE" entao la estava eu dentro do variasons de novo ,, o problema era que aquele grupo nao existia , pois falei aquilo no susto ,,eu nao tinha banda ,,huahuahuahuahua, ai acabamos tocando em 5 com a seguinte formaçao , kalunguinha "masturbator"(vocal), eu (baixo),max ccaa & crioulo doido(guitarras) e mauro gordo( batera),,E MOLE?????

Lá na comunidade existem diversos outros depoimentos, mas acho que esse resume bem o espírito do que foi aquilo. A imprensa paraense registrou cada versão do projeto estimando público de até 4000 pessoas por noite. Não importa o número exato. Era gente pra caramba! Pela minha mão circulou uma dinheirama da qual, como idealizador, coordenador e realizador de tudo, me coube o suficiente para comprar minha primeira mobilete de segunda mão. O investimento era todo na qualidade do que estava no palco. Quando penso nisso... não me arrependo. Foi divertido!

Infelizmente não consegui encontrar mais nenhuma foto das versões do CENTUR (com gente pelas mangueiras por falta de espaço no chão) e do palco da primeira versão, no SESC, que foram, no meu modesto ponto de vista, das mais surpreendentes, completas e bem servidas. Sobraram as que seguem.





Um comentário:

  1. Marlucio Mareco12/08/2011, 22:05

    Achei isso ótimo, Ferrari. Às vezes, a gente faz as coisas porque gosta e quer fazer, lutando contra um monte de dificuldades e o feito acaba resultando num fato que fica para a história, nesse caso, para a história da música popular de Belém... do Pará... do Brasil. Isso é maravilhoso. Adorei. Parabéns. Bj.

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