domingo, 15 de maio de 2011

CORAIS

Era uma vez... um Coral que regi durante 10 anos e que não vou citar o nome para não comprometer ninguém.

Na época eu deveria ter 30 e poucos anos. Embora sempre esteticamente deficitário, estava em pleno vigor da idade.

O referido grupo era composto de distintas, elegantes e discretas senhoras com mais ou menos meio século de existência, porém, muito alegres e afinadas. Coral feminino. Nenhum homem além do Regente.

Muito requisitado para eventos, eis que um dia o Coral deveria cantar uma Missa. Lá fomos nós para a igreja, sempre com algumas horas de antecedência para instalação e passagem de som, breve ensaio e acertos finais com o Sacerdote.

Todo Coral sob minha regência tem uma equipe eleita democraticamente entre os coralistas para as diversas funções administrativas e de apoio. Nesse dia, a responsável pelas partituras esqueceu a pasta com todas elas e só percebeu quando pedi o material para iniciar o ensaio no local do evento.  Putz!

Cada Missa tem, em média, 10 músicas e eu não tinha todas na memória. Precisava cifrar tudo no breve tempo que restava. Corre pra cá, corre pra lá, papel, caneta, letras no jornalzinho da igreja, teste rápido de som, enfim, um pandemônio no qual eu precisava manter o equilíbrio e a calma.

Pedi a todas o máximo de silêncio. Precisava de concentração para cifrar tudo e, se possível, ainda fazer um rápido ensaio.

Estava lá, concentrado, quando se aproxima uma coralista e sussurra no meu ouvido: - Maestro... - Agora não, dona Zeneide (nome fictício). Passaram alguns minutos e de novo: - Maestro... - Por favor, agora não posso falar. Respondi. Mais alguns minutos: - Maestro... Em tom mais firme e duro, quase gritando: - Agora não, dona Zeneide! Por favor, estou trabalhando!!! No que ela devolveu no mesmo tom: - Maestro, o zíper da sua calça está aberto e se continuar assim não vou conseguir me concentrar para cantar a Missa!!!

Quando levantei a vista da partitura dei de cara com um grupo de senhoras sérias me olhando e não resistimos: gargalhada geral!!! Discretamente, afinal, estávamos em uma igreja! Relaxei, fechei o zíper, cifrei tudo e acho que foi uma das Missas mais animadas que cantamos. Deu tudo certo no final.

Essa história foi lembrada, contada e recontada por anos entre nós, sempre com muito humor.

Quem fez parte da cena sabe de qual Coral o caso integra o repertório, bem como o nome verdadeiro da minha querida coralista.

Estou pensando em montar um mosaico com as fotos de todos os meus Corais, mas, no momento, fico por aqui.

Que tenham todos um santo dia e uma Noite Santa.

3 comentários:

  1. Que lindo, Ferrari. Infelizmente Voce nao continua com o grupo, pois com certeza essa sonoridade bem equalizada ja estaria em um patamar de coro profissional. PARABENS!

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  2. Obrigado, Bia! O Coro do texto não é o Coro do video, pois, com este, que criei, passei apenas UM ANO. Valeu!

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  3. Saudades Ferrari, eu sei bem qual é o coral citado acima. Pelo menos duas destas senhoras estão cantando no andar de cima.E as outras continuam sonhando com tempos passados e cochilando naquelas reuniões que você bem conhece. Tempos bons! Lindas misaas! Saudades...
    Deide

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