sexta-feira, 18 de março de 2011

BOBOS DA CORTE



Estou lendo "Musica Classica per Negati", de David Pogue e Scott Speck, com Introdução de Zarin Mehta, irmão do Zubin e Diretor Executivo da Philarmonica de NY, e Prefácio de Glenn Dicterow, Primeiro Violino da mesma Orquestra.

Não conseguindo traduzir "Negati" com uma só palavra em Português, pedi ajuda aos meus colegas de trabalho, profundos conhecedores dos dois idiomas, e concluimos que seria melhor traduzir o sentido. Algo mais ou menos como "Música Clássica (ou Erudita) para Inaptos".

Na página 20, da versão em Italiano, um parágrafo bateu direto no meu baú de memórias: Musicisti a servizio. Diz lá que um jovem músico na Europa em um passado de 300 anos seria aconselhado a procurar trabalho na corte de um rei, na casa um rico aristocrata ou em uma catedral. Muitos desses músicos, empregados de famílias nobres, eram tratados como servos e realizavam diversas tarefas. Apresenta um exemplo. Giuseppe Sammartini (1695-1775) foi um grande oboísta italiano, irmão mais velho do célebre Giovanni Battista, que escreveu algumas das mais belas sinfonias e que teve importante influência sobre o jovem Mozart. Como ganhava para viver? Era empregado da corte do Príncipe de Galles e prestava serviço como Chefe do staff doméstico, além de Professor de Música e Compositor. Então, sugerem os autores do livro, podemos imaginar o seguinte diálogo:

PRÍNCIPE: As lasanhas estavam ótimas, Giuseppe.
SAMMARTINI: Agradeço infinitamente Vossa Alteza por fazer elogios generosos e não merecidos ao meu humilde trabalho. O que deseja que seja preparado para o próximo domingo?
PRÍNCIPE: Gostaria de um dos teus excelentes Concertos para Oboé. Adoro os teus ornamentos, as tuas melodias maravilhosas, as tuas decorações elegantes!
SAMMARTINI: Vossa Alteza me deixa encabulado de orgulho.
PRÍNCIPE: Ah, Giuseppe, quase esquecia: Faz engomarem melhor as minhas calças.
SAMMARTINI: Pois não, Vossa Alteza.

Assim viveram vários dos hoje famosos e grandes músicos. Mozart chutou o pau da barraca da corte onde trabalhava e levou, por esse motivo, um chute no traseiro. Pensava que tinha talento para coisa melhor. Terminou na vala comum.

Hoje não é muito diferente. Com raras exceções, músico é sinônimo de Bobo da Corte. O problema é que, naquela época, reis, príncipes, aristocratas e religiosos costumavam andar vestidos. Hoje, também com raras exceções, estão nus. Completamente.