quarta-feira, 10 de março de 2010

CIRANDAS IRADAS

17/11/2009. 50 anos da morte do compositor Heitor Villa-Lobos. Aconteceram no Brasil alguns eventos lembrando a data, mas não sei se suficientes para a importância do artista. O Brasil deveria respirar Villa-Lobos como a Áustria respira Mozart e a Rússia respira Tchaikovsky.

Alguém conhece uma Rua Villa-Lobos? Em Belém, se ainda não caiu, tem um edifício com esse nome, vizinho a outro chamado Ernesto Nazareth.

Os americanos acham que quem inventou o avião foram os irmãos Wright. Os italianos aprendem que foi Leonardo da Vinci. Nós, brasileiros, juramos que foi Santos Dumont. Mas como gritar isso ao mundo se pouco ou quase nada se faz no Brasil para reforçar a tese? Em Fortaleza tem uma avenida com o nome dele. No RJ, um aeroportozinho de segunda. Mais alguma coisa? Não lembro.

Aproveitando que meu texto anterior era sobre folclore e músicas infantis, enquanto alguns “modernosos” reinventam a roda, o modernista Villa-Lobos encanta o mundo com as Cirandas. Nos links abaixo está o gringo fazendo uso delas. No primeiro, é clicar e ouvir “Nesta Rua, Nesta Rua, Ciranda #11, VIlla-Lobos, Fred Sturm, Piano”. Ao lado, a informação complementar: The 11th of the 16 Cirandas of Villa-Lobos, based on Brazilian children's songs. Live performance at the University of New Mexico, Keller Hall, 8/29/09.


No segundo, Terezinha de Jesus.


Abaixo, a capa de um CD gravado pelo Coro Infantil do Teatro Municipal do Rio de Janeiro: Villa-Lobos para Crianças. Tocou na TV e no rádio? Então, quais crianças ouviram? Dos banqueiros patrocinadores, talvez. Bem, além delas e das que integram o Coro, pelo menos mais duas: as minhas.


O repertório desse belíssimo trabalho:

01-O Castelo
02-Co,Co,Co
03-Carneirinho,Carneirão
04-Machadinha
05-Pai Francisco
06-Rosa Amarela
07-Que Lindos Olhos
08-Vida formosa
09-Samba Le Le
10-Constante
11-Ó Sim
12-A Cotia
13-Bela Pastora
14-Na Corda Da Viola
15-O Anel
16-Capelinha De Melão
17-Cai Cai Balão
18-Sapo Jururu
19-Caranguejo
20-A Gatinha Parda
21-Formiguinhas
22-Candeeiro
23-Nesta Rua Tem Um Bosque
24-Anquinhas
25-O Cravo Brigou Com A Rosa
26-Terezinha De Jesus
27-Nigue-Ninhas
28-Viuvinha Da Banda D Alem
29-Senhora Viúva, Viuvinha
30-Ó Limão
31-Meu Benzinho
32-Na Mão Direita
33-Uma, Duas Angolinhas

Basta. Deixo eu também as crianças em paz, afinal, como diz o resto da canção, “sou apenas um tijolo na parede”.

Falando nisso, a Maestrina Bianca Almeida, do Coral Vida e Luz, de Goiás, me enviou e-mail informando que meu texto “Laissez-Faire” está em lista de discussão virtual de regentes, coralistas e músicos na Internet. É isso. Tomara esse tijolo ajude na construção de qualquer parede.

Em tempo de Quaresma, quero, porém, terminar lembrando exatamente que, por mais forte que seja, um dia a casa cai. Está escrito: “Não ficará pedra sobre pedra”. Não tem coisa melhor na vida que a igualdade da morte. Do “jornalista” no fundo da arrogância ao lixeiro no alto da vassoura, a morte iguala tudo na horizontal. Tem poucas coisas boas no envelhecer. Uma delas é ir, gradualmente, se liberando das máscaras, voluntariamente ou com pequena ajuda da natureza.

Que lembrem disso os culpados pelos que estão, como Mozart, nas valas comuns do Haiti. Como nos velhos tempos das rádios, ofereço a esses distintos senhores, do próprio Wolfgang, DIES IRAE. Um dia não haverá sol. É uma estrela. Vai apagar. Tudo.