quinta-feira, 16 de abril de 2009

VALEU!

Todas as palavras não bastam para enaltecer as virtudes de um pai, principalmente quando este morre. Momento em que belos textos são escritos pelos que ficam imersos na saudade. Meu pai morreu e muito de bom e bonito sobre ele foi escrito.

Não pretendo mais um texto nesse sentido, pois não vou aqui enumerar e enaltecer as infinitas virtudes do meu pai. Elas existem para mim, enquanto filho, e não necessariamente para as demais pessoas. O que de bom a ele não disse ou fiz quando era vivo, agora não importa mais.

Entendo, mais do que nunca, como é difícil manter a rota sem se perder na imensidão do espaço vazio que, de uma forma ou de outra, com ele aprendi a preencher com semibreves, mínimas, semínimas e colcheias, embora sua maior técnica eu não tenha conseguido imitar: o uso de pausas. Grande Maestro autodidata! O silêncio e a mansidão não deixavam dúvidas do perfeito ouvido interno que possuia. Harmonioso. Absoluto. Eu, musicalmente alfabetizado, dele não sou nem a sombra.

A cortina se fechou na velha Itália, após um Natal no coração da Igreja que ele serviu por toda a vida. Visitou, antes, todos os filhos e netos, como em um périplo de despedida da missão a ele confiada e cumprida. Um círculo perfeito se formou. Do ponto de partida, no passado, mesmo de retorno, no presente, para nova partida a um futuro de luz e vida infinita. Sim, ele acreditava nisso e adorava um Deus, que alguns dizem não existir, mas que, misteriosa e maravilhosamente, sempre se manifestou de forma concreta em nossas vidas. Não tem problema. Se não existir, meu pai nada perdeu. Se existir, muito ganhou.

A Ópera ele protagonizou no Brasil e hoje lá repousa com a mesma paz de quando dormia a sesta ou o tranquilo sono da noite. Não importa se foi grande ou pequeno, merecedor ou não de aplausos em cada ato. Importa que possuiu essa infinita paz enquanto era vivo.

A mim, resta apenas registrar e agradecer o grande privilégio de ter vindo a este mundo como filho de JOSÉ CARLOS FERRARI. Valeu!

Roma, 15/04/2009.